Consumo de vinho recua ao menor patamar desde 1961

O setor global de vinhos enfrentou em 2024 um dos seus anos mais difíceis em mais de seis décadas, pressionado por uma combinação de fatores climáticos extremos, mudanças no comportamento do consumidor e um cenário geopolítico incerto. Segundo dados divulgados na terça-feira (15) pela Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), a produção e o consumo mundial da bebida caíram aos níveis mais baixos desde 1961. A entidade, que monitora o mercado em mais de 180 países, incluindo o Brasil, apontou que o volume global produzido foi de apenas 226 milhões de hectolitros, uma queda de 5% em relação ao já fraco desempenho de 2023.

O recuo é explicado, em parte, pelos impactos do clima em regiões produtoras dos hemisférios Norte e Sul, com destaque para geadas precoces, secas prolongadas e chuvas intensas. No Brasil, as fortes inundações que atingiram o Rio Grande do Sul em maio do ano passado contribuíram para uma queda de 41% na produção nacional, que totalizou cerca de 2,1 milhões de hectolitros. Além das intempéries, os vinhedos também enfrentaram doenças fúngicas, o que agravou ainda mais o cenário. Apesar disso, o país manteve-se como o terceiro maior produtor da América do Sul, atrás apenas da Argentina e do Chile.

No consumo, a tendência de queda segue firme. A OIV estima que o volume consumido em 2024 foi de 214 milhões de hectolitros, o menor patamar em 63 anos. A retração é resultado não só da desaceleração econômica, da inflação global e dos conflitos geopolíticos, como a guerra na Ucrânia, mas também de transformações nos hábitos dos consumidores. Com o avanço da cultura do bem-estar, há cada vez mais pessoas optando por reduzir ou eliminar o consumo de álcool. O fenômeno é especialmente forte entre as gerações mais jovens, que priorizam estilos de vida saudáveis e adotam iniciativas como o “dry January” — mês sem ingestão de bebidas alcoólicas. No Brasil, o consumo de vinho caiu 11,4% em 2024 na comparação com a média dos últimos cinco anos, reforçando esse movimento.

Mesmo com a retração na produção e no consumo, o aumento dos preços médios compensou parte das perdas em volume. O comércio internacional da bebida permaneceu aquecido em valor, ainda que mais contido em volume. Em 2024, o preço médio de exportação por litro foi mantido em 3,60 euros (cerca de R$ 24), igualando o recorde histórico registrado no ano anterior. Esse dado reforça uma tendência crescente de sofisticação no mercado: consumidores estão comprando menos, mas optando por vinhos de maior qualidade e valor agregado.

O setor ainda observa com apreensão os desdobramentos da guerra comercial impulsionada por Donald Trump. Embora o presidente norte-americano tenha sinalizado uma pausa nas tarifas de importação, as bebidas alcoólicas seguem no centro das disputas com a União Europeia. Para 2025, a incerteza continua no radar, e o desafio do setor será equilibrar a oferta com uma demanda mais seletiva e consciente, ao mesmo tempo em que tenta se adaptar às exigências de sustentabilidade e saúde do novo consumidor global.

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